quarta-feira, 8 de junho de 2016

O que é mais valioso?

Era uma vez, num reino distante um rei que gostaria de casar sua filha e para isso lançou um desafio para seus súditos, de forma a descobrir qual deles estaria mais capacitado a desposá-la.
Lançado o desafio, que consistia em qual deles traria o objeto mais valioso do mundo.
Vários foram os candidatos que trouxeram desde animais exóticos a plantas e objetos de família.
Um dos súditos, pensando em ser diferente, coletou a única flor que havia em seu jardim e informou que ela possuía o maior valor para ele, o amor.
Diante de tão nobre sentimento, o rei decidiu-se por este e o concedeu a mão de sua filha.


segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Um porto para partir

Da proa a vista é ampla e o vento é forte
Uma viagem em que quando partes eu chego
Viajantes atrasados para o começo.

Nesse mar de embaraços, seu riso é rastro e coube num espaço fotográfico,
Do laço criado, a lembrança de um abraço,
Onde cada linha do meu traço é uma tábua pro nosso barco, que se chama esquecimento.

Letras ao ar, como ondas no mar
Eu escrevo...
Escrevo pra remar, pra não me afogar,
E escrevo pra lembrar que é preciso continuar...

Que a tempestade seja teu melhor porto

E que a sabedoria da instabilidade cure teu riso torto.




sexta-feira, 6 de junho de 2014

“O cachorro e o menino”

Era uma vez um cachorro que tinha um menino. “Coooomo assim? Um cachorro que tinha um menino, ou um menino que tinha um cachorro?”. É isso mesmo que você ouviu: um cachorro tinha um menino. Era um cachorro imenso, indócil, muito abusado. Latia muito, comia demais, era desobediente, queria estar em todo lugar da casa, não se aquietava nunca. O menino era pequeno diante dele, e vivia por ele, era dominado pelo cachorro. Era seu servo.

Todos os dias – todos os dias – o menino acordava 30 min mais cedo para descer com o cachorro. Só depois tomava seu café e ia para a escola.

Quando o menino chegava em casa, o cachorro o recebia alegremente na porta do elevador, batendo as patas em sua barriga até derrubar seus cadernos, ansioso por um afago. O menino atendia ao cachorro antes mesmo de almoçar.

Enquanto fazia suas tarefas, o cachorro ficava do lado, lambendo as pernas do menino, chamando sua atenção. Ele se confundia, não sabendo se atendia primeiro ao cachorro ou às tarefas.

Após fazer a lição de casa, o menino descia para a quadra para jogar com seus amigos do prédio, mas o cachorro ia junto, correndo pela quadra, atrapalhando o futebol.

À noite ainda era pior, pois o cão não dormia, pulando em cima do garoto enquanto ele assistia a seu programa de esporte favorito.

Sua mãe reclamava que o garoto não lhe dava atenção, não conversava com ela. Sua irmã caçula chorava porque o menino não brincava com ela. Seu pai brigava com ele, ameaçando vender ou doar o cão.

O menino também estava cansado, muito cansado. O menino não dormia sem o cão; não comia sem o cão; não brincava sem o cão; não conversava sem o cão. O menino não vivia. O cão o dominava. O cão era seu dono.

De tanta raiva, o garoto passou a imaginar que a única solução seria se livrar do cão. Pensou que haveria dias em que sentiria saudades, mas a liberdade de não ter mais um cachorro para lhe dominar as horas o atraía, pois ele não achava meios de evitar o animal. Não havia como disciplinar o bicho, nem lhe dedicar apenas o tempo suficiente. Ele sempre queria mais, ele reivindicava todas as horas da criança. O menino bolou um ‘plano exclusão’, chegando a sentir certo prazer em imaginar o cão sozinho, abandonado em uma noite escura, bem longe de casa, em uma cidade vizinha, para que não achasse o caminho de volta. Pensou que, só aí, haveria descanso.

Sentou-se no sofá e o cachorro, claro, veio atrás. Naquele momento, já resguardado pela possibilidade imaginária de se livrar do animal, o menino olhou nos olhos marrons do cão, que lhe miravam com ternura. O bicho chegou perto, abaixou as orelhas, sentou-se aos pés do menino, lambeu-lhe as mãos. Menino e cachorro cruzaram os olhares. Foi então que o menino viu tudo. E da profundidade dos olhos do cachorro veio a compreensão. Naquele momento Gaspar compreendeu o que Rex estava fazendo por ele, o que a presença ostensiva do cachorro significava para ele. Percebeu então, pela primeira vez, que a solução não estava no cachorro, e sim nele mesmo. Então, Gaspar fez um gesto de carinho na cabeça de Rex.


 Wanda Lúcia Ramos da Silva – Turma Practitioner C, 2014 – SBPNL.


quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

De dentro da concha...

A seus olhos sou pequenina e indefesa...Me deixe sussurrar ao pé do seu ouvido e viaje comigo ao infinito através da melodia da eternidade.

Recolhida em minha proteção calcária consigo aperfeiçoar minha intuição e ampliar o alcance da minha visão...De onde estou agora nem mesmo sei distinguir o que é mar e o que é céu...tamanho é o azul que me invade.

E por falar em invasão...me defendi tanto à sua chegada que acabei por transformá-lo em meu bem mais precioso. E por querer-te tão bem, te embalarei no ritmo da maré, conhecendo-te e apreciando-te, entre idas e vindas...



terça-feira, 12 de novembro de 2013

Entre reinos, pães e estrelas

Num Reino muito distante, mas não tão distante, quanto o Reino de Godah, vivia um Rei. Tinha uma mente inquieta.
Quando soube que em breve herdaria o maior reino da região de Muito Distante, decidiu conhecer todos os outros reinos, até os da região Muito Perto, arquirrivais de seu Pai. Disfarçou-se de padeiro, pois compreendeu que em uma coisa TODOS eram iguais, TODOS precisavam alimentar-se. ‘Distancenses e Pertencenses’ gostavam de pães, logo dos padeiros.
Por todos os reinos que passava na sua mente falava ‘como isso pode ser útil para deixar meu povo feliz’. Aprendeu a dançar todas as músicas que achava ser útil, aprendeu a saborear todos os pratos que achava ser útil, aprendeu a falar todas as línguas que achava ser útil, aprendeu a negociar todas as coisas que achava ser útil.
Num dos invernos mais invernosos recebeu a notícia de que chegara a hora de assumir o Reino.
Ao voltar, maravilhado percebeu que todas as coisas que aprendera e achava ser útil para fazer seus súditos felizes estavam também presentes em seu Reino. Como ninguém percebia?
Com essa incógnita em mente, começou a olhar para cada um de seus súditos e percebeu que havia algo estranho nos olhos deles. Correu para o alto de uma das torres de seu castelo para olhar-se no espelho e averiguar se em seus olhos havia os fios de seda que enxergou no seu povo.
Perplexo percebeu que era o único com os olhos límpidos e começou a pensar como ele poderia ajudar o seu povo a enxergar os belos tesouros que o reino possuia.
Saiu da sala dos espelhos e correu para a cozinha e pôs para trabalhar suas belas mãos de padeiro. Como ele queria fazer o maior pão de todos os reinos, precisou de ajuda. Começou pela cozinheira real, depois a auxiliar, seguida de todos os moradores do Castelo. Cantarolavam uma música única e muito fácil de aprender. Em breve todos os moradores do reino seduzidos pela música e pelo cheiro do aroma doce no ar, se entregaram aquela canção e juntos enrolaram a massa, prepararam o forno, assaram o pão e o comeram.
Era uma noite como nunca haviam visto, as estrelas no céu valsavam ao som daquela música. A lua tão bela compartilhou os céus com toda espécie de cores e brilhos advindos dos fogos de artifícios que pela primeira vez naquele Reino eram liberados para compor a sinfonia da energia.
Naquela noite quando todos olharam uns para os outros, perceberam que nunca haviam se visto. Perceberam quão próximos daquele céu magnífico eram os seus olhos.
E cada olho era um UNIVERSO com seus sóis, luas, cometas, planetas e estrelas! E em cada olhar iniciava-se uma dança, a dança das seiscentas estrelas que juntas formavam a constelação ‘Primarions’.
Do alto da torre do poder o Rei sentiu-se feliz e deixou-se cair para ser abraçado pelas estrelas.

Acordou com um beijo de sua mãe e tia. Seu pai o aguardava com uma mesa farta de pães e juntos deliciaram-se num belo café da manhã, no primeiro dia da primavera!






quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O teu desenho no mural da minha história

Peguei lápis e papel. Precisava desenhar a minha história. Um rabisco que começou no verão e sobreviveu a todas as estações. Um traço inicial forte e retilíneo, que me bagunçou e fez acreditar ser a melhor entre as melhores desenhistas.

Estive tão conectada ao torpor do verão que não notei a chegada do outono. E junto com o vento forte que varria as folhas das árvores, perdi meu rabisco inicial.....

Sorte a minha haver mais lápis e papel. E como os frutos que amadurecem nesta estação, assim eu também amadureci meu traço....agora mais leve, com suaves curvas inspiradas pelo sopro de esperança que me trazia a cada sorriso, a cada olhar...

Madura e confiante ensaiei até algumas formas....que alcançaram tuas mãos mas que se calaram no silêncio do inverno....convite ao recolhimento e à busca da sensatez.

Despertei. Meus traços ganham forma e cor, como as flores que surgem com a primavera. Não entrego este desenho em tuas mãos porque elas estão ocupadas, apoiando meu traço. 

Gratidão.




segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Acima das nuvens

O dia é cinza, a temperatura é baixa, e pra onde quer que eu olhe observo pessoas correndo. Elas correm contra o relógio, correm contra suas angústias, correm para chegar a tempo em seu compromisso. Elas correm. Mesmo quando estão paradas.

Da janela de onde espio o mundo a velocidade do pensamento é maior que a velocidade do som...e a teia de conexões e conclusões que se forma pertence apenas a seu próprio autor, ainda que envolva outros personagens.

Hoje o dia é cinza, mas dessa janela de onde o espio há uma densa camada de nuvens que encobre a visão dos que correm lá embaixo.

Se pudessem observar o que há acima das nuvens veriam um dia lindo e claro de sol, onde a temperatura é amena e o compasso do tempo obedece ao compasso do coração.

Porque este, mesmo quando descompassado acerta o passo, e nos presenteia com o melhor caminho a seguir. Deixa o sol entrar....boa semana.